Ele é o primeiro alimento da vida e essencial para o desenvolvimento dos órgãos e para a formação óssea das crianças. Do materno ao de caixinha, descubra tudo sobre o leite na dieta infantil
Poderoso. É assim que podemos descrever, muito resumidamente, o leite materno, já que ele tem tudo (e na medida certa!) que o bebê precisa para se desenvolver plenamente nos primeiros meses de vida. Recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como alimento exclusivo até os seis meses e como complemento até os 2 anos ou mais, ele é composto por proteína, carboidrato e gordura. É uma fonte inesgotável de vitaminas e minerais, como cálcio, potássio, zinco, magnésio e fósforo, que garantem o bom funcionamento das células, tecidos, músculos e órgãos do corpo todo. E o melhor: já vem aquecido e pronto para o consumo. “O organismo da mãe é tão sábio que ele sai do seio na temperatura corporal, cerca de 36ºC a 37ºC, para a criança não perder caloria”, explica o pediatra Hugo Ribeiro, professor da Universidade Federal da Bahia, consultor da OMS e especialista em nutrologia infantil pela Universidade de Cornnel (EUA). Água também é o que não falta a ele. É por isso que a criança amamentada somente no peito até o sexto mês não necessita de mais nada.
Além de nutrir e hidratar, o que torna esse leite ainda mais precioso é seu poder de evitar inúmeras doenças, fortalecendo o sistema imunológico dos bebês por meio dos anticorpos da mãe, que são liberados para o filho naturalmente do início ao fim da mamada. Recentemente, uma pesquisa da Universidade de Western (Austrália) revelou outro feito: durante a amamentação, se o leite que retorna pelos ductos mamários com a saliva do bebê carregar micro-organismos nocivos, o organismo da mulher os identifica estimulando uma resposta imunológica que muda a composição do leite. Ou seja, aumenta a quantidade de leucócitos para proteger a criança de infecções. Não à toa, os especialistas são unânimes em afirmar que ele é o melhor alimento para a criança, mesmo após a introdução alimentar, que deve ocorrer a partir do sexto mês.Porém, mesmo com tamanha importância, apenas metade das mães consegue amamentar o filho até o primeiro ano, segundo dados de uma pesquisa publicada na revista científica The Lancet. O estudo mostrou também que 68% das crianças brasileiras são amamentadas na primeira hora de vida e apenas 25% até os 2 anos. Há uma série de fatores que podem prejudicar o aleitamento, como a anatomia e fissuras dos seios, o estresse no pós-parto, entre outros (confira quadro ao lado). E, como a criança precisa ganhar cerca de 30 gramas por dia ou 900 gramas por mês nos primeiros meses de vida para se desenvolver bem, quando ela não atinge essa meta e o ganho insuficiente de peso está comprometendo a saúde, o pediatra pode sugerir a fórmula láctea como coadjuvante do leite materno.
Versão artificial X caixinha
Vale lembrar que as fórmulas devem ser servidas de acordo com as instruções da embalagem, respeitando a idade da criança e a quantidade de pó e água. “Colocar mais leite do que o recomendado pode levar ao excesso de peso e, menos, fará com que a criança não receba a quantidade adequada de nutrientes. Na hora de preparar, também é importante usar água filtrada”, diz a pediatra e nutróloga Daniela Gomes, do Hospital do Coração (SP). Vale lembrar que o tipo de fórmula a ser oferecida deve ter recomendação do pediatra ou nutricionista, de acordo com as necessidades de cada criança.
Embora os fabricantes indiquem o composto lácteo até os 2 anos ou mais, o pediatra Hugo Ribeiro alerta que, como a criança já come de tudo após 1 ano, inclusive os derivados do leite, como queijos e iogurtes, o organismo já está acostumado a digerir o leite de vaca integral, popularmente chamado de caixinha. “Portanto, ela não precisa mais do artificial que, inclusive, é mais calórico e caro”, diz. No entanto, o leite de vaca é considerado o mais polêmico na área alimentar.
O médico americano Frank Oski, ex-diretor do Departamento de Pediatria da Universidade John Hopkins (EUA) e autor do livro Don’t Drink Your Milk ("Não Beba o seu Leite", em tradução livre), afirma que o alimento da vaca foi feito para os bezerros e não para humanos e possui proteínas e gorduras que são difíceis de serem digeridas. Ou seja, pode provocar alergias, constipação intestinal, difícil digestão, irritação dos tecidos e órgãos e baixar os níveis de minerais no sangue. Algumas pesquisas também mostram que alterações hormonais em crianças e adolescentes poderiam estar associadas com o consumo exagerado do alimento e seus derivados. Porém, vários outros estudos, como o do médico norte-americano Robert J. Collier, publicada no Journal of Animal Science, e pesquisa referência para o assunto, mostra que, embora exista o uso de hormônios do crescimento na alimentação dos animais, essas substâncias não são absorvidas pelo nosso organismo. Para os especialistas entrevistados pela CRESCER, apenas crianças com intolerância a lactose ou alergia à proteína do leite devem evitá-lo. Segundo eles, como cerca de 70% da massa óssea é criada até a adolescência, o cálcio (considerado o “cimento” do osso) é indispensável.
O leite de caixinha pode ser encontrado nas versões integral, semi-desnatado (com 50% menos calorias e gordura) e desnatado (isento de gordura e com poucas calorias). O melhor tipo para as crianças a partir de 1 ano – se ela não for obesa ou tiver problemas cardiovasculares ou refluxo, por exemplo – é o integral, que contém mais gordura, importante na infância desde que seja consumida com moderação.
Na prateleira, você encontra o pasteurizado ou Ultra High Temperature (UHT, em embalagem longa vida). A diferença entre eles está no tipo de temperatura a que são submetidos para eliminação dos micro-organismos. No processo de pasteurização, é aquecido a 75ºC. Deve ser conservado sob refrigeração e tem um prazo de validade médio de cinco a dez dias. Já no UHT, a bebida é aquecida a 150°C e depois resfriada. Seu tempo de prateleira é mais longo, até quatro meses, sem precisar de refrigeração. Vale lembrar que os dois tipos não precisam ser fervidos para o consumo e devem ser conservados na geladeira após aberto.
Alimento indispensável?
Se o seu filho tem dificuldade de consumir o leite in natura, uma alternativa é oferecê-lo batido com frutas, no cereal (sem açúcar, claro!) ou em forma de mingaus, como o de aveia. Só tome cuidado para não adoçá-lo ou misturá-lo com achocolatados. Por mais que sejam bem aceitos pelas crianças, têm alto teor de glicose. Assim, o que seria um benefício acaba prejudicando o equilíbrio na alimentação da criança.
Amamentar nem sempre é fácil, mas não impossível. Claro que há uma série de questões que podem dificultar o aleitamento, e não só no que diz respeito à mãe. “Prematuros, por exemplo, tendem a ter dificuldade em sugar, crianças com problemas anatômicos na boca também. Ainda assim, todos eles podem ser driblados, desde que a mulher receba apoio e orientação”, diz o pediatra e nutrólogo Ary Lopes Cardoso, responsável pela Unidade de Nutrologia do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP. Mas uma das grandes barreiras para o sucesso da amamentação é quando a mãe passa a desacreditar da capacidade do leite que produz. Por isso, nunca é demais reforçar: não existe leite materno fraco. E, ele é, sim, o melhor alimento que você pode oferecer ao seu filho. Por isso, insista. Será essa persistência, aliás, que vai ajudar na produção. “Os seios não são reservatórios que esvaziam. Eles produzem o líquido durante as mamadas. Por isso, quanto mais o bebê sugar, mais leite a mãe terá. Quem dita isso é a criança, de acordo com sua saciedade”, explica a pediatra e nutróloga Daniela Gomes. Portanto, relaxe, até porque o nervosismo pode ser prejudicial. Quando a mãe está estressada, o organismo pode ter dificuldade de liberar a ocitocina, hormônio responsável pela descida do leite. Mas, veja só, mesmo nesses casos, ainda há saída, por meio da relactação – técnica em que se utiliza uma sonda para o bebê mamar no peito. Confie no seu taco e peça ajuda sempre que sentir necessidade.
Entenda o rótulo
AR ou Antirrefluxo – É igual à fórmula normal, mas tem um amido que, junto com o suco gástrico, forma um gel e “pesa” no estômago, evitando que o leite volte.
Sem lactose – É indicado para crianças que têm intolerância a ela (entenda mais na página a seguir) e apresenta sintomas como diarreia persistente, cólicas abdominais e flatulência.
HA ou Fórmulas Hipoalergênicas – Possui proteínas hidrolisadas ou parcialmente hidrolisadas para quem tem alergia à proteína do leite de vaca.
Fórmulas prebióticas – Geralmente esse tipo contém adição de fibras para as crianças que sofrem com constipação intestinal.
DHA e ARA – Trata-se de gorduras importantes para o desenvolvimento mental da criança. No entanto, a maioria das fórmulas já tem.
À base de soja – Feito a partir da proteína isolada da soja, pode ser suplementado com aminoácidos (responsável pela formação muscular). Outra opção para crianças com alergia e intolerância.
Intolerância ou alergia?
Alternativas
Alternativas
RECEITA: LEITE DE AVEIA
rendimento: 800 ml
1 copo (200 ml) de aveia em flocos
4 copos (200 ml) de água
Misture tudo em uma jarra e deixe de molho (dentro ou fora da geladeira) por 12 horas. Depois, bata no liquidificador e peneire com um pano limpo. O leite deve ser consumido no mesmo dia.
Fonte: Revista Crescer
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