Algumas dicas para amenizar o hábito da criança de roer as unhas
Como a infância é uma fase de muitas descobertas e as crianças ainda estão reconhecendo em si, a capacidade de enfrentarem os desafios do dia a dia, é comum que se sintam ansiosas e inseguras. Diante da insegurança, cada criança pode buscar uma “válvula de escape” diferente, com a intenção de se distrair e tentar se acalmar. Enquanto algumas crianças podem desenvolver outros hábitos como enrolar o cabelo, ou ficar balançando a perna quando estão sentadas; muitas crianças costumam roer as unhas como uma forma de amenizar a ansiedade e a insegurança que experimentam no dia a dia.
Mesmo que essa sensação de insegurança seja uma experiência constante para as crianças, é interessante notar que, geralmente, elas costumam roer as unhas em dois momentos aparentemente opostos. Ou nas situações nas quais a ansiedade e a insegurança são mais intensas, como na hora em que estão pensando para responder as questões da prova na escola, por exemplo. Ou nos momentos em que estão descansando, como quando estão sentadas assistindo televisão. Isso porque nos momentos em que a insegurança é mais intensa, elas precisam do alívio imediato que esse hábito proporciona. Enquanto que nos momentos de repouso, quando não estão distraídas com as atividades, a insegurança que experimentam no dia a dia é vivida e percebida por elas com mais clareza.
Nesses momentos, é comum que o hábito de roer as unhas chame a atenção dos pais e eles fiquem em dúvida de como agir. Se a criança rói as unhas nesses momentos, quando está em repouso, ou em situações especificas mais estressantes; e se ela não se machuca ao fazer isso, é sinal de que esse é apenas um hábito, que ela desenvolveu para amenizar suas inseguranças e se acalmar em situações de estresse. É possível que, conforme ela cresça e desenvolva novas habilidades para lidar com os desafios do dia a dia, esse hábito seja naturalmente amenizado. No entanto, se os pais percebem que a criança está roendo as unhas com uma frequência e intensidade cada vez maior, ao ponto de estar constantemente com as mãos na boca e com os dedos machucados, existem alguns cuidados que podem ajudar a criança a abrir mão do alívio que esse hábito lhe proporciona:
Converse com seu filho sobre os desafios e a insegurança que ele sente no dia a dia
Quando a criança consegue comunicar suas experiências e é acolhida ao fazer isso, ela encontra o apoio, que precisa para se sentir mais segura diante das novidades e desafios, que enfrenta nas suas relações. Ao se sentir mais segura, é possível que a hábito de roer unhas diminua. No entanto, nem sempre é fácil ajudar a criança a comunicar suas experiências nas conversas e interações do dia a dia. Muitas vezes, quando as perguntas são muito amplas ou abstratas, a conversa fica “travada”, não se desenvolve. Perguntas como: Como foi seu dia? Alguma novidade? Costumam ser respondidas pelas crianças de forma monossilábica: Bom… Não… Por isso, a dica para que a conversa se desenvolva até que a criança consiga compartilhar as experiências que a deixam insegura é fazer perguntas mais detalhadas e concretas. Além de transformar a conversa em uma brincadeira para que o diálogo com a criança possa se manter em andamento.
Assim, na hora em que for buscar seu filho(a) na escola ou dar banho nele(a), por exemplo, experimente perguntar dos amigos, falando o nome deles. Pergunte se o Pedro, o João, ou a Marina, por exemplo, foram à escola e se seu filho(a) brincou com esses amigos e do que eles brincaram. Ou ainda, experimente transformar a conversa em uma brincadeira para se aproximar da linguagem lúdica que a criança acessa com mais facilidade. Pensando nos amigos mais próximos, ou mesmo na professora, peça para seu filho falar três coisas boas sobre essas pessoas e três coisas não tão legais, por exemplo. E a partir das respostas que ele (a) der, se disponha a não julgar, apenas escutar com atenção e compartilhar experiências semelhantes que você viveu com seus professores e amigos na escola. Quando essa troca é possível, além da criança encontrar um ponto de apoio importante para amenizar a insegurança que experimenta no dia a dia; ela ainda assimila as referências que você compartilhou, o que amplia o repertório que ela terá a disposição para lidar com os obstáculos do dia a dia. Assim, com a repetição de diálogos com esta qualidade, é possível que a insegurança que a criança sente no seu dia a dia seja amenizada com o tempo e o hábito de roer unhas não seja mais tão necessário.
Ajude seu filho a expressar a insegurança de forma mais criativa
Outra dica que pode ajudar a criança a abrir mão do seu hábito de roer as unhas para amenizar a insegurança e a ansiedade que sente é ajudá-la a expressar suas inseguranças de forma mais criativa. Se a criança começa a roer as unhas quando não está fazendo nada, tente sugerir que ela faça um desenho, ou pegue um livro de desenhos para colorir junto com ela, por exemplo. Se a criança tiver um hobby como tocar um instrumento musical, ou se ela gosta de dançar, você também pode sugerir que ela vá fazer isso. Dessa forma, a criança aprende que pode agir no contato com a insegurança para se expressar criativamente e produzir algo criativo, o que pode até contribuir para a ampliação da sua autoestima. Com o tempo, esses hobbies podem não só se transformar em uma nova “válvula de escape” mais produtiva e construtiva do que o hábito de roer as unhas; como também podem contribuir para que a criança se sinta mais segura, na medida em que ela reconhece em si novas habilidades e sua autoestima se fortalece.
Assim, é natural que as crianças precisem de “válvulas de escape” para lidar com a insegurança que sentem diante dos constantes desafios que se apresentam ao longo do seu crescimento. O hábito de roer as unhas pode ter essa função, mas quando este hábito se torna muito frequente e intenso pode ser um sinal de que a criança precisa de alguns cuidados que a ajudem a compartilhar a insegurança que sente e a expressá-la de forma mais criativa. Porém, se mesmo assim, a criança permanece constantemente com os dedos na boca e se machuca ao fazer isso, talvez, pode ser útil procurar a ajuda de um psicólogo para que seja possível compreender se existem outras emoções e necessidades que a criança está com dificuldade de compartilhar e quais cuidados podem ajudá-la a lidar com o que está sentindo de forma mais criativa.
Carla C. Poppa é psicóloga formada pela PUC-SP, fez especialização em Gestalt Terapia pelo Instituto Sedes Sapientae. É mestre e doutoranda em desenvolvimento infantil na PUC-SP. Atende em seu consultório, na Rua Dr. Veiga Filho, 350, em Higienópolis, crianças, adolescentes e adultos, onde também orienta pais em sessões individuais ou em grupo. Para falar com ela escrevam para: poppa.carla@gmail.com ou acessem o blog: www.carlapoppa.blogspot.com.br
Fonte: Blog Just Real Moms
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