quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Os cuidados que promovem a autonomia da criança e evitam a superproteção – por Carla Poppa


Olá, mamães!
Hoje vou compartilhar um post escrito pela  psicóloga, Carla Poppa, exclusivamente para o blog Just Real Moms.
O assunto abordado é a superproteção: um tema importantíssimo! Mesmo sabendo que esse comportamento é prejudicial para as crianças e deve ser evitado, muitos pais não conseguem abrir mão dele. Dessa forma, o post aborda os cuidados para incentivar a autonomia do seu filho. Vale a pena ler!
Hoje em dia, muitos pais se questionam se estão protegendo demais seus filhos e se preocupam se as crianças terão problemas no futuro quando terão que enfrentar sozinhas o “mundo real”. Isso porque estamos cada vez mais em contato com casos de violência. O contexto de insegurança em que vivemos provoca nos pais a sensação de alerta e a liberdade das crianças tende a se tornar cada vez mais restrita. Por isso, estimular a independência dos filhos passou a ser um cuidado que precisa ser oferecido com uma maior atenção, já que a tendência natural nos dias de hoje é querer ficar sempre próximo para proteger as crianças de possíveis perigos. Assim, é importante apresentar desafios de maneira gradual aos filhos para que eles possam se tornar cada vez mais independentes. Aos poucos, então, cuidados como, por exemplo, estimular que os filhos possam dormir na casa de amigos, ou permitir que desçam sozinhos no playground do prédio, por exemplo, favorecem experiências que possibilitam à criança a sensação de ser independente e capaz de cuidar de si mesma.
Porém, para que as crianças possam enfrentar com tranquilidade e segurança esses pequenos desafios que incentivam a independência é importante que a sua autonomia seja incentivada nas interações do dia a dia desde cedo. A forma como os pais reagem às necessidades, solicitações e desejos da criança pode influenciar na promoção da sua autonomia. Isso porque quando a criança é bem novinha, ela não consegue ainda expressar ou buscar o que precisa por conta própria, não pode nem mesmo ficar muito tempo incomodada sem que alguém a acalme, porque ela precisa do acolhimento de outra pessoa para voltar a se sentir bem. No entanto, com o passar do tempo, a criança desenvolve uma maior maturidade. Quando os pais percebem isso, de maneira quase intuitiva, eles conseguem “dar um tempo” entre o choro ou o pedido da criança e a sua resposta. A solicitação da criança deixa de ter um sentido de urgência como costumava ter quando ela era bem novinha e a criança aproveita esse tempo para tentar “se virar sozinha”. Então, por exemplo, se a criança pede para a mãe um suco e a mãe lhe diz para esperar para que ela possa terminar de se arrumar; a criança pode ir para a cozinha e pedir para outra pessoa. Se a criança chora porque outra criança pegou seu brinquedo no parquinho e mãe ou o pai conseguem se manter calmos e “ dar um tempo”  é possível que a criança encontre uma solução sozinha, ou direcionando sua atenção para outro brinquedo, ou tentando conversar com a outra criança. Ou seja, o cuidado que promove a autonomia no dia a dia é justamente esse tempo entre a atitude ou o pedido da criança e a reação ou a resposta dos pais. Nesse tempo, a criança acha espaço para se “virar sozinha”.
O “tempo” que para muitos pais é oferecido de maneira natural, porque eles percebem e reconhecem o crescimento e as novas habilidades dos seus filhos. Para outros, mesmo que reconheçam que a criança esta crescendo, deixá-la esperando ou sozinha diante de um conflito pode ser uma experiência muito difícil. A dificuldade pode estar relacionada com os valores que muitas mães e pais carregam sobre o significado de cuidar bem de uma criança. Para essas mães e pais, cuidar bem significa atender a criança quando ela solicita. Não atender a criança, por outro lado, é quase um sinônimo de preguiça, negligência ou egoísmo, dependendo do contexto. E a culpa que experimentam quando tentam oferecer esse “tempo” para a criança é tão grande que impede que esse movimento venha de maneira espontânea. Outra questão que também pode comprometer a experiência da criança de ter que “se virar sozinha” é a ansiedade dos pais. A ansiedade é uma sensação que muitas pessoas experimentam em momentos de maior estresse ou diante de um desafio. Nesses casos, é uma sensação passageira e pode deixar a pessoa mais irritada e com menos paciência, mas quando o período de estresse passa, a pessoa tende a se acalmar. Ou seja, para algumas pessoas a ansiedade é uma experiência de tensão passageira. Porém, existem pessoas que são ansiosas. O acúmulo de tarefas do dia a dia, mesmo de menos importância e mais corriqueiras são suficientes para justificar esse estado de agitação, preocupação e alerta. Essas pessoas estão sempre prontas para agir e nesse contexto, a solicitação do filho é interpretada como “mais uma tarefa a ser cumprida” e os pais, quando são pessoas ansiosas, atendem a criança o mais rápido possível para que as “tarefas” não se acumulem e a sua ansiedade não se intensifique. E também existe a possibilidade da mãe ou do pai terem passado por situações difíceis de perda e sofrimento. Nesse contexto, é possível que projetem as suas emoções na experiência da criança. Assim, o chamado, o choro da criança é entendido como uma experiência de desamparo, da qual os pais querem, com a melhor das intenções, “salvar” a criança.
Todos esses são exemplos de dinâmicas que resultam no que chamamos de superproteção. A superproteção é, portanto, quando o tempo para a criança se “virar sozinha” não existe ou é muito limitado. Assim, se a criança não desenvolve a sua autonomia desde cedo nas interações com seus pais e cuidadores; quando chegar o momento de enfrentar os desafios que reforçam a sua independência, como dormir fora de casa, ou ir sozinha ate o parquinho do prédio, é possível que venha a expressar algum tipo de dificuldade. Isso porque a criança que não desenvolve sua autonomia permanece dependente da presença do cuidador, pois ela não reconhece em si a capacidade de “se virar sozinha”.
Por fim, é importante ressaltar que não é preciso ter pressa. Os bebês precisam mesmo da presença dos pais, sempre que choram e se sentem desconfortáveis. A autonomia não precisa ser estimulada quando a criança é muito novinha, mas aos poucos, conforme ela cresce, é importante que os pais tenham em mente que “dar um tempo” é também um cuidado e se absolvam quando não conseguem atender as solicitações da criança. Assim, poderão desvincular o sentido de urgência (a não ser nos casos em que realmente é uma urgência, como quando a criança se machuca!) dos pedidos que a criança expressa e abrir o caminho para a promoção da autonomia do seu filho!

Carla C Poppa é psicóloga formada pela PUC-SP, fez especialização em Gestalt Terapia pelo Instituto Sedes Sapientae. É mestre e doutoranda em desenvolvimento infantil na PUC-SP.
Atende em seu consultório, na Rua Dr. Veiga Filho, 350, em Higienópolis, crianças, adolescentes e adultos, onde também orienta pais em sessões individuais ou em grupo.
Para falar com ela, escrevam para: poppa.carla@gmail.com, ou acessem o blog: www.carlapoppa.blogspot.com.br

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