segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Criança pode ser vegetariana?

É possível abrir mão da carne e até do leite e dos ovos? Conheça os prós e os contras desse tipo de dieta para o desenvolvimento infantil

Assim como os valores de respeito, educação, amor e cuidado, muitas famílias esperam que seus filhos sigam a mesma alimentação que os pais, principalmente quando se trata de uma família vegetariana. De acordo com a Sociedade Americana de Pediatria, essa dieta pode ser lacto-ovo-vegetariana: sem carne, mas com ovos, leite e derivados; lacto-vegetariana: sem carne e ovos, mas com leite e derivados; ou vegana: sem carne, leite e ovos. Em qualquer dos três casos, a recomendação da SAP é que a criança seja acompanhada por um médico especialista e, se necessário, consuma alimentos enriquecidos ou suplementos vitamínicos.
Já a Sociedade Brasileira de Pediatria faz ressalvas sobre esse tipo de dieta para crianças e gestantes. “Crianças vegetarianas alimentadas inapropriadamente, com dietas muito restritivas, apresentam grande risco de deficiência nutricional, o que pode comprometer o crescimento e o desenvolvimento”, explica a pediatra Jocemara Gurmini, do Departamento de Nutrologia e Suporte Nutricional da Sociedade Brasileira de Pediatria. Ela ressalta que os pais devem estar cientes da importância de identificar boas fontes de cálcio, ferro, zinco, ômega 3, vitamina B12 e vitamina D e, diante da impossibilidade de atingir as necessidades nutricionais relativas à idade da criança, a suplementação medicamentosa será necessária. “É preciso envolver o pediatra e nutricionista para que seja feito um trabalho em conjunto na orientação destes pacientes”, complementa Jocemara.
Segundo o nutrólogo Eric Slywitch, diretor do departamento de medicina e nutrição da Sociedade Vegetariana Brasileira, a única vitamina que não pode ser encontrada em alimentos que não são de origem animal é a B12. “Ela é importante para a formação dos glóbulos vermelhos, da parte neurológica e do desenvolvimento cognitivo da criança. Por isso, é importante suprir essa necessidade com suplemento ou polivitamínicos”, recomenda Slywitch.
O médico garante que a dieta vegetariana não oferece nenhum risco ao desenvolvimento das crianças nem para as gestantes, desde que seja feito um controle das taxas de nutrientes no sangue. É este também o parecer do Conselho Regional de Nutrição de São Paulo, que atesta que “as dietas vegetarianas, quando atendem às necessidades nutricionais individuais, podem promover o crescimento, desenvolvimento e manutenção adequados e podem ser adotadas em qualquer ciclo de vida”.
Dá para substituir

Se a família realmente optar pela dieta vegetariana, existem algumas trocas que podem ser feitas para driblar a deficiência de nutrientes. São elas:
FERRO
O ferro melhor absorvido é o tipo heme, proveniente das carnes. Ele também pode ser encontrado em vegetais verde-escuros e leguminosas, porém, sua absorção pelo organismo é menor. Consumi-lo com uma fonte de vitamina C aumenta esse aproveitamento. Mesmo assim, os vegetarianos precisam de 1,8 vezes a quantidade de ferro convencional.
Dica: Evite alimentos fontes de cálcio (como queijo e leite) em refeições ricas em ferro. Esses dois minerais competem entre si no organismo, o que afeta o aproveitamento de ferro.
ZINCO
Como a carne contém zinco de boa absorção, há o temor de que, ao retirá-la da dieta, possa haver deficiência. Mas ele está bastante presente em grãos como o feijão.
Dica: Como o ácido fítico, presente em alguns vegetais, é a substância que mais atrapalha a absorção de zinco, deve-se reduzi-lo (especialmente nos feijões). Basta deixar os grãos de molho em água por um período de 8 a 12 horas e trocá-la para cozinhar.
CÁLCIO
As principais fontes de cálcio são o leite e derivados. Também pode ser encontrado nas frutas, verduras e feijão, porém a capacidade de absorção dos alimentos não lácteos pode variar entre 5% (espinafre) e 50% (repolho e brócolis).
Dica: O conteúdo de cálcio absorvido de um copo de leite equivale ao de 4 xícaras de feijão.

PROTEÍNAS
Para quem não é vegano, boas fontes de proteínas são ovos, leite e derivados. Já quem não consome esses alimentos, pode substituir por tofu e iogurte de soja. No entanto, de acordo com Mario Vieira, gastroenterologia pediátrico do Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba (PR), alimentos à base de soja não devem ser oferecidos para crianças menores de 1 ano por conta de alguns componentes, como os hormônios vegetais e o alumínio, que podem não ser seguros para crianças nessa faixa etária. Mas os especialistas ressaltam que é preciso ter atenção para não confundir as fórmulas infantis de soja com as bebidas de soja. “A fórmula infantil de soja é balanceada e apropriada para as necessidades de uma criança pequena. Já as bebidas de soja (como os sucos) têm pouca quantidade de cálcio e não substituem o leite, como as fórmulas”, afirma Mario Sergio.
Cuidados na gestação

Jocemara Gurmini, médica do Departamento de Nutrologia e Suporte Nutricional da Sociedade Brasileira de Pediatria, dá algumas orientações às gestantes e lactantes vegetarianas:
1.Planeje alimentação para que não faltem nutrientes importantes.
2. Adeque as fontes de vitamina B12 e/ou faça suplementação.
3. A deficiência de vitamina D e ferro tem sido comum – verifique a necessidade de suplementação.
4. Inclua alimentos ricos em ácido linolênico, como linhaça, soja e canola, além de outros ricos em ômega 3, como peixes e verduras verde-escuras na alimentação ou faça suplementação.
5. Suplemente o cálcio (mesmo que seus níveis no leite materno não estejam baixos).
Fonte: Revista Crescer

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